
Chernobyl: Como a Química explica o maior desastre nuclear da história"
Texto por: Felipe Cordeiro
No dia 26 de abril de 1986, uma explosão no Reator 4 da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, liberou uma grande quantidade de radiação na atmosfera. Esse acidente é considerado o maior desastre nuclear da história e continua sendo estudado até hoje, devido aos seus impactos ambientais e humanos.
Foto 1: Registro da cúpula de aço, de 36 mil toneladas, que cobre o Reator 4 e sela a radiação. Reprodução.
Para entender como a química nos ajuda a analisar e a lembrar o que aconteceu em Chernobyl, conversamos com o professor Matheus Costa Gontijo, licenciado em Química pelo Instituto de Química da UFG e mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Segundo Matheus, o acidente foi uma combinação de falhas humanas e falhas técnicas durante um teste de segurança. A explosão não foi nuclear, mas uma explosão química, causada por uma reação entre vapor, grafite e zircônio. "No núcleo do reator, o combustível nuclear (urânio-235) sofre fissão, liberando energia e gerando calor. Esse calor aqueceu a água usada como refrigerante. Quando o controle sobre essas reações foi perdido, o núcleo superaqueceu e causou uma reação com o zircônio, gerando hidrogênio. Esse hidrogênio, ao entrar em contato com o oxigênio do ar, causou a explosão.”, explicou o professor.
Além disso, o grafite, que era usado para moderar os nêutrons no reator, também entrou em combustão, espalhando ainda mais radiação pela atmosfera. O acidente liberou uma série de elementos radioativos, incluindo iodo, césio e estrôncio, que continuam afetando o ambiente até hoje. O professor Matheus nos explica a diferença entre esses elementos e seus efeitos: "O iodo tem uma meia-vida curta (cerca de 8 dias), mas foi altamente prejudicial à saúde humana, principalmente por se acumular na tireoide. Já o césio e o estrôncio têm meias-vidas de cerca de 30 anos, e por isso ainda contaminam o solo e a água da região."
Esses elementos liberados pela explosão não se dissiparam rapidamente, eles continuam a afetar o meio ambiente e a saúde da população, com efeitos que ainda são sentidos até hoje. A química ambiental ajuda a entender o impacto desses elementos no solo e na água, como explica o professor:
"Elementos como o césio-137 e o estrôncio-90 são solúveis, o que significa que podem ser transportados pela água da chuva e contaminar lençóis freáticos e rios. No solo, eles se fixam nas partículas argilosas, dificultando sua remoção. Esse processo de contaminação é prolongado, já que esses isótopos têm meias-vidas muito longas."
Ele destaca que a meia-vida de um elemento radioativo é o tempo necessário para que ele perca metade de sua radiação. O césio, por exemplo, tem uma meia-vida de 30 anos. Mas para que sua radioatividade chegue a níveis aceitáveis, são necessários cerca de 300 anos, ou 10 meias-vidas. Para o professor, estudar Chernobyl vai além de apenas entender a química por trás do acidente. Ele vê o evento como uma oportunidade para discutir a responsabilidade humana e como decisões erradas podem causar danos duradouros.
"Chernobyl nos ensina que a química, quando não é tratada com cuidado, pode ter consequências trágicas. A radioatividade, invisível a olho nu, pode destruir vidas e afetar gerações. E é a química que nos ajuda a entender esses riscos e a criar formas de minimizar os danos.”. Essa reflexão, segundo o docente, é fundamental para o ensino de ciências: "Esse tipo de conteúdo desperta nos alunos a consciência de que a ciência não está isolada da realidade. Ela está diretamente ligada ao que acontece no nosso dia a dia e nas nossas decisões.", complementa.
Foto 2: Destroços de hospital, destruído pelo tempo e pela radiação. Reprodução.
Embora o desastre tenha ocorrido há quase 40 anos, a contaminação na região de Chernobyl continua sendo um problema até hoje. As áreas ao redor da usina ainda têm níveis elevados de radiação, o que torna a região perigosa e restrita. Além disso, o estudo dos resíduos radioativos e os protocolos de segurança nuclear foram fortemente aprimorados após o acidente, para evitar que tragédias como essa se repitam no futuro.
Com as explicações do professor Matheus Costa Gontijo, conseguimos entender como a química nos ajuda a lidar com os impactos de desastres nucleares e o porquê de Chernobyl continuar sendo um tema importante, tanto para os estudiosos quanto para a população em geral.