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A ciência e o pesquisador: homenagem na teoria, desvalorização na prática

A realidade em áreas do conhecimento distintas no Museu de Ciências da UFG

Texto por Letícia Carvalho

 

Para celebrar a importância da pesquisa científica e tecnológica para o desenvolvimento do país, comemora-se o Dia Nacional da Ciência e o Dia do Pesquisador Científico Brasileiro no dia 8 de julho. A data foi estabelecida para homenagear a criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 8 de julho de 1948 e foi precedida da Lei nº 10.221, de 2001, que instituiu o Dia Nacional da Ciência, e da Lei nº 11.807, de 2008, o Dia do Pesquisador Científico.

Em razão da data, o Museu de Ciências da Universidade Federal de Goiás (UFG), consultou cada um de seus núcleos para entender o quanto a ciência e os pesquisadores encontram-se valorizados no Brasil. Cada núcleo corresponde a uma área de conhecimento diferente e, por isso, revelariam realidades distintas. Será?

 

Carlos Roberto Candeiro, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Geociências/UFG e responsável pelo Museu de Geociências – cujo objetivo é divulgar temas geocientíficos desenvolvidos por parceiro(a)s do Museu de Geociencias/UFG –, compreende que a ciência vem perdendo espaço na sociedade, “mas tem sido a possibilidade de alcançarmos públicos que não conseguimos ver e dialogar. Agora, é uma oportunidade e estamos amadurecendo com ela.”. Ele acredita que, de certa forma, “a sociedade está aberta, temos alguns/algumas de nós que podemos ter um engajamento mais em conjunto” e assim surge a importância do Museu de Ciências da UFG para ser um incentivador a novos pesquisadores e, por conseguinte, indutor da valorização da ciência.

 

Andréa Pereira dos Santos, Mestre em Comunicação e responsável pelo Ateliê Tipográfico – um espaço de produção gráfica e um verdadeiro laboratório de experimentação científica e cultural, que promove a intersecção entre tecnologia, memória e conhecimento, reafirmando o papel da universidade como espaço de preservação e inovação –, não considera que a ciência está perdendo espaço na sociedade, “mas sim que há um desencontro entre o que é produzido nas universidades e centros de pesquisa e a forma como isso é percebido pelo público.” A data do dia 8 de julho é importante, então, para chamar a atenção da necessidade da “popularização da ciência — tornando-a compreensível, próxima e relevante para a vida cotidiana das pessoas. Só assim será possível fortalecer o vínculo entre ciência e sociedade, e promover uma cultura científica mais inclusiva e democrática.”, reforça Andréa.

 

Já Matheus Eliseu da Silva de Lima, Técnico em Artes Gráficas, entende que “a ciência não teve muito investimento adequado para o seu crescimento quanto o setor de tecnologias” e, em reflexo, as artes gráficas tornaram-se “um campo de estudo bem restrito”. O Ateliê preserva maquinários de um trabalho já extinto e resgata uma ciência do século XV, mas a falta de incentivo à pesquisa resultou na “baixa procura e falta de interesse pela área”, destaca Matheus. Por isso, os museus de ciência desempenham uma função crucial na sociedade ao disponibilizar seus ambientes para o público, possibilitando que as pessoas se conectem com a produção científica, proporcionando a chance de conhecer não só os objetos e coleções, mas também os métodos e conhecimentos que estão por trás da sua criação.

 

À frente do Pátio da Ciência – um espaço público, um centro de ciências aberto à visitação da comunidade, com o objetivo de divulgar, popularizar a ciência a partir de demonstrações de experimentos das áreas da Física e da Química –, o prof. Dr. em Física Experimental e Aplicada, Marcus Carrião acredita que a ciência ainda é bem aceita pela população sempre que há o contato com pesquisas e inovações. Desse modo, “o Pátio é a oportunidade desse contato, de reavivar o conhecimento adquirido em sala de aula e proporcionar aquele brilho no olhar frente a experimentos científicos. A ciência ainda encanta.”, afirma o professor. Porém, em relação à realidade do ensino e da pesquisa no Brasil, Marcus percebe que a falta de investimento duradouro para a carreira de pesquisador, que demanda muito esforço e renúncia do indivíduo, acaba por desestimular que promissores pesquisadores se lancem nessa área e “isso vira um ciclo de falta de profissionais e, consequentemente, falta de auxílio.”.

 

A partir dos relatos de professores e técnicos da UFG, todos envolvidos no trabalho de pesquisa e comunicação da ciência, podemos responder à pergunta inicial: Não, as realidades de (des)valorização da ciência e dos pesquisadores está presente em todas as áreas. Da falta de incentivo às carreiras acadêmicas até a evasão de pesquisadores para o exterior, há um consenso de que a ciência precisa ser tão divulgada a alcançar a sociedade e, consequentemente, incentivar maior adesão à pesquisa! Somente assim, o dia 8 de julho poderá ser comemorado como um sucesso na teoria e na prática.

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